Jordana Thadei
Em pé e compenetrada, a menina desliza a caneta sobre uma folha branca na pequena mesa compartilhada com a mãe, que autografa os livros e cumprimenta os leitores na livraria. Tomba a cabecinha para um lado para fazer um movimento com a caneta no papel, volta a centralizar a cabeça, com o olhar fixo na atividade, enquanto a tinta vai estampando o papel. Está alheia ao burburinho de pessoas com o livro nas mãos, aos abraços e conversas entre os conhecidos que se reencontram no evento. Na sala ao lado, há uma seção infantil, com almofadas no chão e um tapete colorido. Mas ela está muito ocupada, cuidadosamente, preenchendo o papel.
A autora se levanta para abraçar um amigo, a quem acabou de entregar um livro autografado. A menina, imediatamente, ocupa a cadeira e se ajeita na mesa, em frente a pequena fila de pessoas portando o livro. Ao retornar à mesa para continuar os autógrafos, a mãe pega a filha no colo, beija-a e vai colocando no chão. Mas a menina balança as perninhas e o corpinho. Quer voltar pra cadeira. A mãe explica que ela é quem vai se sentar ali, porque precisa autografar os livros, as pessoas estão esperando. Mas a pequena vai se desvencilhando do colo e argumenta:
_ Agora é a minha vez! Você já escreveu em todos os livros e eu só escrevi naquele papel. Minha vez! Agora é a minha vez!
A mãe explica o motivo de ela estar escrevendo nos livros das pessoas, mas de nada adianta. Encantada com o interesse por aquela prática letrada tão rara para os cinco anos de idade – autografar livros – meto-me no conflito:
_ Deixa ela autografar o meu! _ Dirijo-me à escritora, meio sem saber se eu abriria um precedente para a menina garatujar todos os outros livros da fila.
Sorrindo e certamente compreendendo o valor daquele momento, a mãe concorda e se antecipa para pegar meu livro. Ajo mais rápido e me dirijo à menina que, nesse momento, está se desvencilhando da tia que tenta convencê-la a ir para o espaço lúdico.
_ Maria, você pode, por favor, autografar o meu livro? – peço, estendendo a obra, já autografada pela mãe.
Ela faz que sim com a cabeça, a mãe ri, olhando pra mim e abre a página onde a menina vai autografar, orientando para que ela não avance sobre a dedicatória que acabou de fazer no meu exemplar. A menina empunha a bic com a canhota, ajeita os pequenos óculos no rosto e repete o rito da mãe.
Eu é que não ia perder a chance de participar desse momento e de viver o privilégio de ter o primeiro autógrafo dela.