Sinais do Tempo (Crônica no Instagram)


Jordana Thadei

Ando pensando nas transformações que o tempo faz na gente. Hoje, não tenho mais medo do escuro, mas deixe as luzes acesas, por favor. Há algum tempo, venho escolhendo quais opiniões a meu respeito eu vou ouvir. Foi ele, o tempo: minha nova versão atualizada com sucesso.
Tenho percebido que sorrateiramente o tempo esculpe a minha mãe em mim, rouba a melanina dos meus cabelos e registra histórias de uma vida inteira em linhas em volta dos meus olhos. Estou em paz com as linhas, nem sempre com as histórias. Vez ou outra, releio-as no espelho. Mas reescrevê-las, modificá-las só é possível no papel. Aí, sou eu quem define os rumos.
A gente não se dá conta de em que momento o tempo cola na gente e quando se vê, já são seis horas, seis dias, seis meses, seis anos, seis décadas. E tantos são os que fomos perdendo pelo caminho das horas acumuladas. E tantos são os que fomos ganhando por esse mesmo caminho. O tempo que leva pra longe um amor de juventude é, também, quem pode trazê-lo de volta ao calçadão das nossas origens, às tardes de piscina, piscina turva das nossas lembranças.
Segurei a porta do elevador para o senhor que acelerou o passo, sem desviar o olhar do celular. O rosto foi se tornando familiar por trás da barba grisalha, enquanto ele se aproximava. O sorriso de agradecimento trouxe a certeza: Era o Greg, quem o tempo transformou em Gregório. Era o jovem de corpo dourado nas tardes de piscina, quem o tempo transformou em executivo de calça e camisa de botão. Eu, inerte, era apenas a gentil passageira no elevador. Meu corpo desejou um abraço demorado. Desistiu. Dentro daquele pequeno quadrado em movimento, havia quarenta anos entre nós.

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Jordana Thadei

E-mail: jordanalivros@gmail.com

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