Jordana Thadei
Se não estou enganada, Mia Couto, em "O fio das miçangas", diz que “pior do que não saber contar histórias é não ter a quem contá-las”. E deve ser mesmo. Digo deve ser porque ainda não experimentei nem uma coisa nem outra. Eu conto as minhas histórias para um leitor indefinido e depois as lapido, quando descubro quem é esse leitor.
Mas hoje, meu problema é o oposto do não saber contar ou do não ter a quem contar. Hoje, eu tenho para quem escrever. Tenho uma professora e dezesseis colegas esperando uma crônica, sei colocar as ideias na tela, sei costurá-las, mas não tenho a menor ideia do que dizer. Simplesmente porque não sei escrever com prazo, por encomenda, sob demanda ou sob pressão. Eu escrevo o que me toca, o que me atravessa. E, às vezes, sou tocada por algo tão trivial, mas que dá samba, ou melhor, dá crônica. Mas justo esta semana só fui atravessada por reuniões, formações, capítulos para liberar para diagramação e coisas que não me despertam aquela urgência de escrever o que precisa sair. Há quem chame isso de vômito. Eu prefiro chamar de orgasmo porque alivia também, mas é muito melhor.
Enquanto o assunto não vem, bebo café. Outro café. Mais um café. Mas meu café é solitário, no balcão da cozinha, na varanda, na sala. Sou eu e eu, tentando encontrar um momento singular do cotidiano, uma reflexão interessante, uma ironia fina. Mas nada acontece.
Algum cronista de respeito disse que o problema da falta de assunto é que o escritor toma pouco café. Não no sentido de se encher de cafeína, como eu fiz nesse último dia de prazo. Mas no sentido de se sentar em uma cafeteria, em uma lanchonete azulejada da década de 90, e escutar. Escutar a conversa alheia, a rotina do balcão, o vendedor que faz ponto em frente ao local. Observar o cliente que escolhe sempre a mesma mesa, o que chega todo dia no mesmo horário, o casal que discute ao lado, a garçonete.
O relógio, esse desgraçado, não dá trégua. Hoje ele parece estar mais apressado do que de costume. E eu não tenho o assunto da crônica. Não tenho o assunto da crônica e tem uma montanha de coisas me esperando. Para tudo, são 17:30h. Tenho só duas horas para tomar mais um café na esquina e, quem sabe, borrar a tela com alguma inspiração.