Jordana Thadei
A porta aberta me convida a entrar. Está vazia. O canto gregoriano vai me acalmando, enquanto o sino anuncia o meio-dia. No penúltimo banco, fecho os olhos e, por alguns minutos, sem ruídos, vou deixando a máscara absorver o transbordo das minhas aflições. Sinto a proximidade de alguém que quebra o silêncio que eu pensava me fazer invisível. “Tá passando mal?”. Respondo negativamente, com a cabeça, e sorrio com os olhos, por educação, para o que me parece mais curiosidade do que ajuda. “Ah, tá. Tá chorando, pensei que tivesse passando mal.” Sorrio de novo. Que bom seria se a gente só chorasse pelas dores físicas. Fecho os olhos novamente e, mais alguns minutos, a mesma sensação. Um par de olhinhos negros e arregalados me obriga a disfarçar a tristeza. Ela sorri, mostrando os dentinhos de leite, por alguns instantes, e volta a caminhar pelo corredor central. Me olha, novamente, coloca as mãozinhas em coração e vai embora. Volto a fechar os olhos, enquanto a máscara vai enxarcando. Alguém me toca o joelho. É um vira-lata caramelo que me olha no olho. Sorrio e ele se vai. Há muito o que aprender com crianças e vira-latas.